sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Onde o sol não nasce pra todos


Tem gente que coleciona garrafas de cerveja, as expõem na estante como se cada gole, cada levedura, cada sabor pudesse permanecer em sua boca.
Tem gente que coleciona corações como se fossem troféus, como se cada pessoa que lhe deu o coração o tivesse perdido para sempre.
Tem gente que coleciona decepções, não percebendo que a única decepção que se pode ter é consigo mesmo.
Tem gente que coleciona vitórias, as grita aos quatro ventos, como se as derrotas não fossem importantes.
Tem gente que coleciona medos; não sai de casa, não caminha à noite, não fala o que pensa, não vive.
Tem gente que, inclusive, coleciona vazios. Eu, coleciono auroras. Sempre que posso, acordo cedo e vejo o sol nascer. Assim como não se pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois ele nunca é o mesmo, nem você, nunca uma aurora é igual à outra.
Já vi auroras da mesma janela, num dia lilás e com direito a trovões azul-celeste ao oeste, e noutro vestida em brumas, noiva do dia.
Já vi auroras refletidas nos açudes, no espelho da lagoa, nas pedras da rua e nas paredes das casas.
Já vi auroras onde o azul-claro e o rosa namoravam entre nuvens. Já vi auroras no campo, sempre mais sonoras.
Já vi auroras sob o negrume da tempestade, detrás do verde-musgo do vendaval.
Já vi auroras por entre as venezianas, esmaecidas pelas cortinas. Mas nenhuma delas se compara à aurora do teu olhar... Onde o sol não nasce pra todos.


(Danilo Kuhn)


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