sexta-feira, 24 de maio de 2013

Crônica de autoajuda


Eu pedi ajuda ao próximo, mas ele fez que não viu, desviou o olhar, disfarçou, fez-se de desentendido, e não me estendeu a mão...
Eu pedi ajuda a Deus, reclamei um milagre, que intercedesse em minha vida, que me transformasse, me guiasse pelas águas da existência, que falasse comigo, me desse um sinal, e não ouvi nada, não vi nada, nada mudou, nada...
Foi então que eu aprendi que tanto o próximo quanto Deus estavam me ajudando, me ensinando a eu me ajudar a mim mesmo.
Nenhuma ajuda, nem de outrem e nem mesmo a do céu, faz efeito em si quando alguém não se ajuda. A ajuda mais importante é a autoajuda, aquela onde a pessoa dá a mão a si mesma.
Ajude-se.

(Danilo Kuhn)


sábado, 18 de maio de 2013

Corações gelados


Há corações que nem um malbec acalenta; até mesmo o vinho tem suas limitações. Nos corações gelados corre apenas o degelo da alma.
Há corações que nem a lareira em brasa acende; o fogo se apaga quando não há lenha, não há combustível. Nos corações gelados a chama do amor não flameja.
Há corações que se encontram tão ressequidos que já não batem mais; secura. Nos corações gelados jaz uma pedra de gelo.
As estações não importam, quando se tem invernos no peito.
Corações trancafiados...
Há que se abrir a porta para deixar a primavera entrar.

(Danilo Kuhn)


quinta-feira, 9 de maio de 2013

Repontando sonhos


Repontando cardumes nas águas fundas da vida, o pescador prepara seus anzóis de luz. O peixe de cada dia, o sustento. É preciso ter tino para não perder o norte, habilidade pra guiar o barco, e fé para vencer tempestade e mar revolto.
Repontando o gado, do lombo do cavalo o campeiro bombeia o horizonte como quem recorre a vida, de campos largos e mato fechado, de sangas mansas e rios traiçoeiros. Há de ter manhas de vaqueano para manter o trote, destreza no braço para o rodeio do amor, e coragem para bancar a sorte na gineteada da vida.
Repontando a rotina e o corre-corre da cidade, entre árvores de pedra e flores de cimento, trilhas de asfalto e um mar de gente, o trabalhador junta dias de serviço para aproveitar o fim-de-semana, luta contra o tempo, mas tem pressa de viver. É necessário equilíbrio entre trabalho e lazer, iniciativa e paciência, realidade e sonho.
Repontando os próprios sonhos, o homem forja a si mesmo.

(Danilo Kuhn)


quinta-feira, 2 de maio de 2013

Vento, água, areia e pedra


Vento que sopra em livre-arbítrio, às vezes brisa mansa, às vezes vendaval, trazendo consigo sonhos migrantes de além-mar, velas içadas, peito aberto, balé das árvores e das ondas, o voo das aves, bater de asas.
Água que em espelho-d’água reflete céu e sol e arrebol, que serpenteia matas, lava e refresca a alma, sacia a sede, ondeia ao vento, e que revida a ação nociva do homem com a fúria da natureza em enxurrada.
Areia do tempo que escorre feito água por entre os dedos, que é o trabalho do tempo nos transformando em pó, que é cada um de nós, um grão de areia ao sabor do vento e à mercê do tempo.
Pedra austera e paciente, que a tudo observa e de tudo sabe, viu séculos e séculos de história e conhecimento, ao tempo não esmorece, mas aceita os beijos do vento e da água, até aos poucos também se transformar em areia.
Vento, água, areia e pedra nos acenam à beira da praia, perfeito equilíbrio entre liberdade, fluidez, humildade, e solidez. Olhemos para a praia, e aprendamos com ela.

(Danilo Kuhn)