O campo sofre calado, ninguém lhe ouve
os lamentos; lavouras de esperança padecem à praga tributária que se gruda às
folhas verdes e lhes suga a seiva.
O campo sofre calado, ninguém lhe ouve
as súplicas; sementes de suor e oração não encontram terras férteis e agonizam
entre pedra e espinho.
O campo sofre calado, ninguém lhe ouve
os reclames; tratores sem coxilhas, arados sem terra, sementes sem água, foice
sem pasto.
Plantações de sonhos não realizados.
Na cidade, homens de terno e gravata
pensam que se alimentam de seu trabalho, seus empregos, seus cargos. Esquecem
que não brotam verduras do asfalto, tampouco há rebanhos em pastagens de
cimento. Leite ácido, hambúrgueres de carne de minhoca, salgadinhos de isopor,
sabores e cores de artifício, chicletes de couro.
Crianças desconhecem animais da
criação rural, nunca pisaram num riacho, caminharam na mata virgem, ou
plantaram uma árvore. Acostumam-se com o ar de enxofre, jamais degustarão a
brisa fresca interiorana.
Mas haverá, depois do escuro, um tempo
em que a enxada e o campo serão ouvidos. E o pão nosso de cada dia, sobre a
mesa, contará a sua história.