sexta-feira, 21 de junho de 2013

Protesto contra si mesmo


Sim! Há muita coisa errada lá fora! Parasitas, engrenagens, ilusões, fantoches.
Mas os problemas que vêm de dentro são mais urgentes!
Hoje, eu protesto contra mim mesmo!
Protesto contra minha falta de amor próprio, quando me olho no espelho e me vejo só por fora.
Protesto contra minha inveja, quando me apego à vida alheia como se eu não tivesse a minha própria.
Protesto contra minhas mentiras, que ombreiam com meus medos e me tiram voz e ímpeto quando eu mais preciso.
Protesto contra minha falta de fé, que só se manifesta para pedir, nunca para agradecer.
Protesto contra minhas contradições! Contra a minha vaidade! Contra o meu egoísmo! Contra o meu ódio! Contra o meu orgulho! Contra minha ganância! Contra meus preconceitos! Contra minha corrupção!
Meu protesto é contra mim... Mas meu protesto é legítimo! Não tem bandeiras nem baderna. Portanto, que ninguém ouse bancar o oportunista. Não proteste contra mim. Proteste contra si mesmo!


(Danilo Kuhn)



quinta-feira, 20 de junho de 2013

Sob um céu de bruma



Acordo de meus sonhos sedento de realidade, abro a porta de casa e me acho sob um céu de bruma. O manto madrepérola encobre o sol, mas sua luminosidade é ampla e uniforme, embora sutil. O horizonte ganha ares de mistério ao apresentar-se parcialmente, em dégradé, e a poucos metros. Debaixo das árvores, chove: é a névoa chorando líquida e límpida por entre as folhas. Às águas do rio apenas se ouve, sob a cortina de vapor onde, vez ou outra, pode-se adivinhar um bater de remos, ou um ondular nas margens. A lagoa é encoberta por uma muralha de nuvens, guardando a cidade perdida.
Esfrego os olhos, entorpecido, como se a névoa fosse fumaça de ópio. Mas a visão nublada me faz enxergar além. Quero ver o que há em cada esquina, depois de cada curva. As pessoas se transformam em vultos, silhuetas desconhecidas, sem rosto, e sinto vontade de reconhecer a cada uma delas.
A luz do dia, ou os neons da noite, ofuscam a visão. Se enxerga mais além, quando se está sob um céu de bruma.

(Danilo Kuhn)



sexta-feira, 7 de junho de 2013

Barco coração

O luar sobre a lagoa abre uma trilha prateada por onde meu coração navega sem querer voltar. A onda que beija a proa suspira apaixonada, recordando os beijos teus. A canção que o vento sopra faz minh’alma içar velas em direção ao teu olhar de lua cheia, e meu barco galopa num mar sem fim, cavalgando sob estrelas. O céu me aponta caminhos, é meu mapa; e eu vejo cardumes de carinho nas águas fundas do amor.
A aurora que desponta traz em si uma aquarela onde, no horizonte, Deus artista pinta a Sua mais nova tela diante meus olhos atônitos. A lagoa e este arrebol são um quadro emoldurado à minha vista embevecida, e refletem raios de sol, lumiando o meu barco, ancorado. Há cardumes de carinho nas águas fundas do amor.


(Danilo Kuhn)