Acarinhava meu cachorrinho de estimação
todos os dias ao sol do meio-dia, o qual eu havia escolhido dentre tantos de
uma ninhada porque, ao me agachar, ele não pensou duas vezes e foi subindo pela
minha roupa até alcançar minha face e me lamber. Ele me acompanhou por quinze
anos, metade da minha vida. Eu e meu pai o enterramos, passamos meses vendo um
vulto branco a nos acompanhar. Eu sempre sabia quando o pai passava de
caminhonete perto do colégio, eu reconhecia a voz do meu cachorro latindo da
carroceria. Até hoje o meu pai se engana, vez em quando, e chama de “Sucata” o Bóris,
nosso atual cachorro.
Lembro que certa vez adotei uma gata de rua, batizada de “Só Love”
porque era muito carinhosa. Ela deu sete filhotinhos, e neles coloquei fitinhas
com a inscrição “me adote”, para lhes arrumar um bom dono.
Tive porquinhos-da-índia, que meu pai dizia terem fugido de uma aldeia e
que a dita índia os estava procurando desde então. No entanto, quem ficou
procurando por anos fui eu. Meus pais acharam os porquinhos mortos, o viveiro
aberto, provavelmente pelo Sucata. Para eu não ficar bravo com o cachorro, me
mentiram que eles tinham fugido. Lembro de ter ficado dias procurando, dando
voltas na quadra. Só fiquei sabendo a verdade vinte anos depois!
Eu também tive hamsters: um deles, certa vez, se escondeu detrás do vão da
minha escrivaninha, me deixando muito preocupado; outro, um vizinho sequestrou,
eu vi ele e um amigo dele pulando o muro de casa, fugindo com o hamster, depois
eu reclamei para a mãe dele e somente uma semana depois o bichinho reapareceu;
e outro que o Sucata matou, pois havia fugido da gaiola, quando resolvi cremar
o pequeno roedor, com direito a ritual e comoção.
Também tive um cachorrinho, filho do Sucata, que morava no sítio, o qual
batizei de “Caim” com o intuito de dizer aos meus amigos que o meu cachorro era
o único no mundo que sabia dizer o nome dele, bastava pisar em seu rabo. Ainda
bem que nunca fiz isto, nem deixei que o fizessem.
E lembro que um dia eu e minha irmã ganhamos de presente um hamster cada
um. Era um macho e outra fêmea. Eu, mais velho, me adiantei e disse “o meu é
macho”! Minha irmã, para não perder, e com aquela criatividade inocente e
perspicaz que só uma criança pode ter, por sua vez, disse “e a minha é macha”!
Ah! Estas histórias... Só pode contar quem já adotou um bichinho...
E você? Tem histórias como estas para contar? Não? Então... Adote um
bichinho!