Eu era escravo de mim...
Trabalhava em regime escravo-de-si-mesmo.
Amava como quem prende a si próprio em uma masmorra.
Sorria como o refém sorri ao carcereiro.
Beijava como quem bate ponto na empresa.
Comprava tudo o que os olhos mandavam, ainda que o
bolso gritasse “não!”.
Comia pela fome de amanhã.
Bebia pela sede da semana inteira.
Fazia todas as minhas vontades, passando por cima de
tudo e de todos.
Mas houve um dia em que arrebentei as correntes, me
libertei das algemas que eu mesmo me impunha, e escrevi de próprio punho a
minha alforria.
Hoje, estou livre do meu egoísmo que tornava solitário,
do meu orgulho que me cegava, da minha ganância que me empobrecia, do meu
sucesso que me fazia decadente.
Quem se liberta de si mesmo, abre as cortinas da casa
escura em que habita e vislumbra um mundo infinito lá fora, à espera...
Eu era escravo de mim...
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