quarta-feira, 24 de julho de 2013

O campo sofre calado


O campo sofre calado, ninguém lhe ouve os lamentos; lavouras de esperança padecem à praga tributária que se gruda às folhas verdes e lhes suga a seiva.
O campo sofre calado, ninguém lhe ouve as súplicas; sementes de suor e oração não encontram terras férteis e agonizam entre pedra e espinho.
O campo sofre calado, ninguém lhe ouve os reclames; tratores sem coxilhas, arados sem terra, sementes sem água, foice sem pasto.
Plantações de sonhos não realizados.
Na cidade, homens de terno e gravata pensam que se alimentam de seu trabalho, seus empregos, seus cargos. Esquecem que não brotam verduras do asfalto, tampouco há rebanhos em pastagens de cimento. Leite ácido, hambúrgueres de carne de minhoca, salgadinhos de isopor, sabores e cores de artifício, chicletes de couro.
Crianças desconhecem animais da criação rural, nunca pisaram num riacho, caminharam na mata virgem, ou plantaram uma árvore. Acostumam-se com o ar de enxofre, jamais degustarão a brisa fresca interiorana.
Mas haverá, depois do escuro, um tempo em que a enxada e o campo serão ouvidos. E o pão nosso de cada dia, sobre a mesa, contará a sua história.

(Danilo Kuhn)


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