Dizem
que a bagunça na Terra era tanta, que Deus resolveu fazer greve. E assim foi.
De
manhã, o sol não nasceu. Ninguém pôde ouvir os cantos dos pássaros, ou
vislumbrar os matizes da aurora, porque não amanheceu. Mas as pessoas não
repararam, e seguiram sua vida normal.
À
noite, a lua não saiu. Nenhum casal apaixonado admirou a trilha prateada na
lagoa, nenhuma criança sorriu ao ver o sorriso da lua, porque a noite não teve
luar. Mas as pessoas não repararam, e seguiram sua vida normal.
Pelas
matas, os riachos não correram. Ninguém pôde ouvir a música das águas, tampouco
nadar contra a corrente. Mas as pessoas não repararam, e seguiram sua vida
normal.
Nas
cidades, as flores não se abriram. Nenhum caminhante encantou-se com um
desabrochar, nenhuma menina deixou-se embriagar pelo perfume das rosas. Mas as
pessoas não repararam, e seguiram sua vida normal.
Entristecido
com a falta de efeito de Sua greve, Deus decidiu dar a cartada final, sem dó ou
piedade. Foi então que Ele fechou todos os Seus ouvidos e não atendeu a mais
nenhuma oração. Toda e qualquer prece seria em vão. Mas as pessoas, que já não
mais rezavam, não repararam, e seguiram sua vida normal.
Eis
que o Todo-poderoso alterou os planos. Reuniu todas as Suas forças e pintou o
mais colorido alvorecer, forjou a mais prateada lua, compôs o mais sonoro
riacho, elaborou o mais inebriante perfume, rezou a mais eloquente oração. E
assim, somente assim, através do Seu trabalho, tocou novamente ao coração dos
homens.
Em vez
de não fazer, fazer melhor. Ninguém reza ao Deus da greve.
(Danilo Kuhn)
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