quinta-feira, 20 de junho de 2013

Sob um céu de bruma



Acordo de meus sonhos sedento de realidade, abro a porta de casa e me acho sob um céu de bruma. O manto madrepérola encobre o sol, mas sua luminosidade é ampla e uniforme, embora sutil. O horizonte ganha ares de mistério ao apresentar-se parcialmente, em dégradé, e a poucos metros. Debaixo das árvores, chove: é a névoa chorando líquida e límpida por entre as folhas. Às águas do rio apenas se ouve, sob a cortina de vapor onde, vez ou outra, pode-se adivinhar um bater de remos, ou um ondular nas margens. A lagoa é encoberta por uma muralha de nuvens, guardando a cidade perdida.
Esfrego os olhos, entorpecido, como se a névoa fosse fumaça de ópio. Mas a visão nublada me faz enxergar além. Quero ver o que há em cada esquina, depois de cada curva. As pessoas se transformam em vultos, silhuetas desconhecidas, sem rosto, e sinto vontade de reconhecer a cada uma delas.
A luz do dia, ou os neons da noite, ofuscam a visão. Se enxerga mais além, quando se está sob um céu de bruma.

(Danilo Kuhn)



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