quinta-feira, 18 de abril de 2013

Barrados no baile


O que busca o olhar vago daquele casal de idade, nesta turística cidade, caminhando sem ter pressa no calçadão da praia durante a tarde mansa, quase como se pudessem parar no tempo? Não busca nada, já se encontraram, há anos. Suas almas admiram paisagens, andam vagarosamente de mãos dadas, saem para jantar juntos, viajam a lugares que lhes façam bem, aproveitam a estadia em si mesmos. Já não sentem sede: bebem um do outro.
Ontem à noite, olhares sedentos de vida entrecruzavam-se durante a festa. Um jovem casal, particularmente, olhava-se com sede do futuro que seus imaginários construíam, simultânea e individualmente. Ela já o conhecia, já o sonhava, porém sem muita esperança. Ele, mais vivido e provado, pusera os olhos pela primeira vez naquele ser que consolava seus anseios num simples olhar. Enquanto a festa rolava, reuniam coragem para unirem-se, preencher o vazio entre si com o gesto do abraço, com o enlace, matar a sede. Mas foram interrompidos. Barrados no baile. A polícia interveio na festa que já andava a incomodar àqueles que nos arredores queriam apenas dormir a madrugada, e não bebe-la.
O que busca o olhar vago daquele casal de idade na moldura de um quadro pintado em óleo sobre tela? Não busca nada. Buscou no passado, mas não encontrou. A polícia interveio. Durante a dança da vida, foram barrados no baile.

(Danilo Kuhn)



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